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“Fruto Proibido” de Jorge Cid | 1ª Parte

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photo: Mikalojus Ciurlionis

Houve um dia, que é o dia que chega a todos os que nascem, em que Ele, o velho misterioso, morreu. Não se sabia quando havia chegado ao povoado, muito menos quantos aniversários haviam transcorrido desde seu nascimento, ainda assim, centenário ou não, bruxo ou não, ele se foi.

Vamos ser sinceros ao recordar a tarde de seu funeral, pois aos mortos sempre devemos a justiça da verdade. Soprou uma malignidade cinzenta que descendo pelas encostas das serras, instalou-se no coração do cemitério, o que fez com que, tanto o padre, quanto o coveiro e seus três ajudantes, apressassem o desfecho antes que dos céus apocalípticos descambasse a chuva.

E assim o fizeram, o trabalho todo, ou quase, pois o padre entre inquieto e apressado, preferiu uma rápida benção, algumas gotas de uma água qualquer, e derramemos a terra.

Passaram-se então sete semanas.

E numa manhã que surgiu banhada por um sol crepitante e envolta pela névoa do som das cigarras, brotara da noite para o dia um arbusto espinhento, de mal aspecto em tudo, bem na entrada da propriedade dos mortos.

Era o dia de finados, e por pouco que se fizesse a notícia espalhou-se como fogo em algodão. O coronel e seus subalternos, o alcaide, o agente da lei, o padre e o dono do botequim, confabularam por horas sobre aquela estranheza, e sobre o que ela podia pressagiar. Decidiram, de comum acordo à resolução do Coronel, que queimariam o arbusto. Assim, quando o campo de mortos fechou suas portas, atearam fogo no mato e quando as chamas haviam consumido até o talo, revolveram a terra amaldiçoada com a enxada e jogaram no lixo os restos, que afinal era o dia apropriado.

O processo se repetiu por uma semana ininterrupta. E, quanto mais queimavam a erva maldita, mais forte ela rebrotava.

A essa altura, o boato de que aquilo era obra do velho bruxo, que fora enterrado na solidão e sem as honras necessárias, começou a pesar sobre os ombros dos responsáveis. Assim, decidiram refazer a cerimônia e seguindo todas as palavras e todos os ritos, pra ver se assim aplacavam a inquietação do velho.

Autoria de Jorge Cid

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