Prosa

“Pensamento” | Marco Hruschka

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Foto : Unknown

“Escrevo na tentativa de me curar. É o meu antídoto. Fui infectado pelo vírus da expressão e a única maneira de sarar é justamente escrever. Tudo o que me vem à mente, às vezes até mesmo sem querer, sem que eu me concentre, implora para ser exprimido. Entretanto, não antes de ser lapidado. Não antes que eu desenhe o texto e o pinte com as minhas cores prediletas. A arte final exige retoques. As palavras vivem por aí, soltas no mundo das ideias. Mas, para que façam sentido, precisam ser unidas umas às outras engenhosamente. O texto é como um quebra-cabeça, se não for bem encaixado, fica imperfeito. Eis o meu veneno e o meu remédio. Delinear sentidos requer responsabilidade e por isso mesmo costuma ferir, visto que estou preso a esse sistema de sinais, volátil, restrito, intangível e só posso me comunicar por meio dessa torre de babel, que é a linguagem. Mas eu hei de controlá-la, dominá-la e fazer prevalecer as minhas intenções. Então, tenho prazer. Sem vacilar, insisto porque amo o que faço. E amo o que faço porque insisto. Entretanto, ao mesmo tempo em que conquisto a imunidade, me infecto. É o meu carma. Sereno e algoz. Sou o sangue escorrendo em cima do papel e o tempo, que tudo cura. Não consigo evitar, pois não se trata de um ofício, mas de uma missão. Fui escolhido. Não tenho escolha. E mesmo que tivesse, não sei se optaria pelo não, pois a literatura me consome e me liberta. Quando eu me for, deixarei uma carta, será o modo como direi “oi” de onde estiver. O além é inevitável. Este escrito, também. É assim que eu falo. É aqui que eu me encontro”.

Texto de Marco Hruschka

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